Qual é a função da cooperativa e qual seu papel para o futuro da sociedade?
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Publicado em 07/03/2025 às 11h11, por: Felipe Anjos

A partir desta edição, o Informativo Produtor trará conversas enriquecedoras com nossas lideranças. Nosso primeiro convidado é o líder cooperativista e do agronegócio, Dr. Roberto Rodrigues. Seu senso crítico sobre as relações econômico-sociais tornou-se uma verdadeira bússola para a construção de uma sociedade sustentável. Confira!
Informativo Produtor: Qual sua avaliação sobre a trajetória do cooperativismo?
Roberto Rodrigues: O cooperativismo brasileiro deu saltos impressionantes nos últimos 30 anos, em especial pela auto-gestão determinada pelo capítulo 5 da Constituição de 1988. Isso deu origem ao Sescoop [Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo], que foi um agente impulsionador da formação de recursos humanos mais capacitados para a gestão do Sistema. A Coplana não ficou fora dessa evolução. Na verdade, a seriedade de seus dirigentes e executivos é uma marca registrada desde sua criação nos anos de 1960. O compromisso com a transparência e a postura conservadora sempre estiveram norteando seu funcionamento. Tal atitude deu equilíbrio, credibilidade e consistência ao trabalho realizado, conferindo à Cooperativa um reconhecimento geral, seja por parte dos cooperados, seja por parte do mundo externo.
IP: Qual estratégia se destaca na atuação da Coplana?
RR: Este caminho de seriedade no modelo de gestão também permitiu investimentos na área tecnológica, que trouxeram inovações responsáveis por redução de custos, aumento de produtividade e melhora de resultados financeiros para os associados, como é o caso da rotação de culturas com a cana, soja e amendoim. E os investimentos em infraestrutura deram certo, colocando a Coplana até no mercado global. Todo o crescimento foi bem calculado, com os menores riscos possíveis e o máximo cuidado com a alavancagem. Um exemplo de gestão!
IP: É perceptível o aumento da influência de fatores externos. Quais as principais ameaças no cenário mundial?
RR: A cada dia fica mais evidente que fatores completamente alheios à atividade exercida por produtores rurais interferem em seus resultados. Um desses fatores imponderáveis é a geopolítica global. A eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos, com seu protecionismo decidido, as guerras na Europa e no Oriente Médio, a complexa implementação do Acordo União Europeia/Mercosul, a expansão da China e de outros grandes países asiáticos (como a Índia) acabam influenciando o comércio mundial, seja de insumos ou seja de produtos e serviços, de todos os setores.
Enquanto isso, as organizações multilaterais, que deveriam ditar regras para o funcionamento do mundo, perdem protagonismo. Ninguém liga para a ONU [Organização das Nações Unidas], para a OMC [Organização Mundial do Comércio] ou para a FAO [Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura]. Cada país faz o que quer e nada acontece, abrindo um abismo para a democracia e uma ameaça à paz mundial. Nesse ambiente conturbado, que alguns chamam de “Era da Desordem”, os países são atropelados por quatro modernos “cavaleiros do apocalipse” que são: a segurança alimentar, a transição energética, as mudanças climáticas e a desigualdade social. Ninguém está livre desses fantasmas, e é preciso eliminá-los para preservar a paz. Não tenho dúvidas de que ao agro está destinada grande parte da responsabilidade por essa eliminação, e também ao agro tropical, do qual o Brasil é o melhor modelo. Geramos alimentos com sustentabilidade e temos uma matriz energética movida pela renovação agrícola, cuidando do meio ambiente e gerando empregos. Portanto, a responsabilidade do agro brasileiro nessa epopeia é enorme, e ninguém pode se furtar a fazer sua parte.
IP: Qual o papel da Cooperativa e qual caminho ela deve seguir para atender às demandas do cooperado diante de desafios globais?
RR: A Cooperativa tem sua função: trazer sempre a inovação que reduza custos e gere competitividade sustentável, notadamente no tema da conectividade, agregando valor e abrindo mercados. Isso exige uma gestão cada vez mais responsável, com atenção permanente ao que acontece lá fora e também com as políticas nacionais, em especial as ligadas à economia (com ênfase para o tema fiscal) e ao agronegócio (com ênfase ao crédito e à segurança jurídica). Não existe mais espaço para gestão amadora.
A Cooperativa é uma extensão, no coletivo, daquilo que o cooperado não pode fazer sozinho. Em outras palavras, ela existe para SERVIR o cooperado. É só não se afastar desse princípio que ela cumprirá sua razão de ser. No entanto, ela não pode olhar apenas para o cooperado e suas demandas evidentes. Ela tem que estar atenta ao que acontece no país e no mundo e como esses acontecimentos afetam a atividade dela e dos cooperados. Isso pode exigir uma posição mais efetiva e participativa nos grandes debates sobre estes temas. É necessário buscar parcerias com outras cooperativas e/ou empresas convencionais e instituições de representação, que podem ser importantíssimas para a geração de valor para o associado. A intercooperação passa a ter um peso maior no funcionamento do Sistema Cooperativo todo, sob a liderança da OCB [Organização das Cooperativas Brasileiras). Acompanhar o que nossa entidade máxima faz em Brasília e junto à ACI [Aliança Cooperativa Internacional] é super relevante. Apoiar esse trabalho também é válido.
Mas, acima de tudo, a Cooperativa não pode se desviar um milímetro de um de seus princípios fundamentais: a educação, em todos os níveis – do cooperado, do funcionário, dos executivos, das lideranças e da sociedade em geral.
Só assim ela valerá a pena e cumprirá sua missão.
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